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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

2 anos de saudade

30 de outubro de 2010 Mais de 23h duas motos estacionam na frente de casa, dois homens descem dos veículos, são recebidos por meu avô, vem até a porta e um dos dois, de cara, dá a notícia: “mataram seu filho”. Vovô em desespero entra no quarto e começa a gemer dizendo “não, não pode ser”, minha avó sem entender nada sai do quarto (já de camisola, preparada para dormir) perguntando o que estava acontecendo. Eu, do quarto ouvi. Sem reação. Minha mãe, do quarto dela ligava pra um amigo e perguntava o que fazia. Hoje fazem dois anos que você se foi meu tio. Outro dia vi um pai brincando com sua filha, jogando-a pra cima como você fazia lembra? E o “besourinho” na barriga? Adorava! Rs Na formatura de algum dos “jardins” cheguei em casa. Caí da escada por ter tropeçado lembra? “cheguei” lá em baixo gritando seu nome, gritei só pra vir me pegar porque, na verdade, nem tinha doído. E naquele primeiro dia de aula, numa escola grande e desconhecida? Você me levou até lá. Entrou comigo e na porta do banheiro disse que se alguém mexesse comigo era pra eu dizer que tu era meu marido (pra botar medo nos meninos). Jogando “Banca Imobiliário” sempre ganhava. Mesmo perdendo dava a volta por cima. Daí se auto intitulava “fênix”. Ia fazer uma tatuagem dela que tomava as costas toda, já tinha até montagem, mas não deu tempo pra fazer não foi tio? Clube do Gugu?? Rs era bom hein? Quando a gente saia dizia pra eu não te chamar de titio, mas de tio pras mulheres não te acharem com cara de velho! Haha eu sempre apoiava suas coisas... As piadas que contava. Eu ria demais!! Lembro daquela do cemitério, ainda dou risada: “entra, por que você não entra, todos já entraram só falta você (8)” O dia em que fomos buscar bebê na maternidade. Ah e os filmes? Era sempre você quem trazia os bons. Desde que se foi nunca mais parei pra assistir. Aquele dia em que chegou contando que tinha ido pra uma festa com um pé de cada sapato e só viu quando chegou lá. Ficava de pé mostrando um e quando cansava a perna mudava e assim sucessivamente pra não mostrar os dois de vez e perceberem que estavam trocados! Ah! Aquele dia que chegou de moto de SP. Chegou exclamando “ai meus ovos” me abraçou. Por duas vezes veio de lá pra cá e de cá pra lá de moto e sem avisar pra minha avó não se preocupar. Outro dia veio perguntando o que eu achava da noto nova, disse que não tinha gostado e você foi acaricia-la dizendo pra MOTO que eu estava brincado! Aquela mesma moto que caiu por cima de você na noite de 30 de outubro. Desde pequena, quando pensava em formatura você seria meu padrinho quando me formasse no ensino médio. Não deu tempo. Saudades tio! Lembro de um dia que fiquei de cama. A pressão baixíssima e não conseguia comer nada. Sabendo como sou, que gosto de besteiras você foi na rua e trouxe dois pasteis. Eu comi, melhorei. Íamos pro Playcenter, mas tive que vir pra Bahia. Lembra daquele menino que levou uns filmes lá pra casa pra assistir comigo? Todos sabiam que eu não queria nada com ele e você chegou me chamando pra ir pra rua! Hahah Você sentava comigo e me contava as cantadas que falava pras mulheres e me dizia que quando alguém usasse comigo era pra dizer que já tinha ouvido. Um dia você me disse que não sabia pra que eu estudava tanto se minha vida seria esquentar a barriga no fogão e esfriar na pia. Não tá sendo bem assim tio! Tô numa cidade nova. Cursando numa universidade pública. Foi o segundo vestibular que eu fiz, passei em terceiro lugar num curso que eu queria fazer. Tô gostando. Tá bom! Não tá sendo fácil ficar longe de todo mundo, mas Deus tem me sustentado e colocado em minha vida pessoas pra me ajudarem aqui. Você gostaria do lugar. É quente, badalado. Sei que, pelo menos uma vez seria motivo de orgulho pra você. Apesar de minha tia dizer que você falava muito de mim. Tô me esforçando pra ser feliz, sei que você queria isso. Queria ter mais tempo, aproveitar mais, brigar menos. Aproveitar as horas de almoço, todo mundo à mesa. Ao invés de ficar sem se falar chegar e abraçar. Sinto falta! Falta das tuas gargalhadas altíssimas. Até das patadas. Das palhaçadas. Sinceramente, não achei que fosse sentir tanto! Evito falar de você por que ainda hoje choro. (estou chorando ao escrever, imagine ao falar) E não sou só eu! A vó e o vô também sentem a partida inesperada e doída do caçula, cuidado com tanto carinho. Bebê ficou mal. Muito mal. Ainda naquela noite tio, a tia ficou sabendo. Eu tive que ligar pra Tia V. e avisá-la. Arrumei forças não sei da onde. Minha mãe, guerreira, esteve o tempo todo com teu corpo. Foi pra Feira, no IML. Deu entrada em tudo. Eu, em casa, tentava dar suporte à vó. Liguei pra pastora e ela veio com algumas irmãs da igreja e cuidaram dela. Fiquei um tempo no quarto, chorei lá pra que quando saísse, pudesse dar forças a vó. Na noite seguinte, no velório, chegou o povo de SP. O pastor foi busca-los no aeroporto em Salvador. Quando os vi chorei, mas disfarcei. Bebê precisava de mim. Demorei pra chegar perto do caixão. Quando cheguei não me contive. Meu pai estava ali dentro. E as brincadeiras? E o sorriso? E as brigas? As “patadas”? A voz grossa no começo de cada canção? E agora? Quem ia cuidar de mim quando algum engraçadinho viesse me encher o saco? E agora tio? Tiraram você de nós. E por quê? Pra que tanta violência? Pra que? Na manhã seguinte não fui pro enterro. Até hoje não sei qual é teu túmulo. Sei apenas da placa de mármore feito com o que sobrou da pia que mandastes fazer com tanto carinho naquela casa que fez com suas próprias mãos com tanto zelo. Fiquei em casa com bebê e Dé. Ela sentiu viu? Até hoje sente. Eu me desdobrava pra fazê-la sorrir. Só eu conseguia isso. Ficava boba na frente dela fazendo palhaçada cantando uma musiquinha que ela gostava. Inclusive, quando ela voltou pra SP pediu pra que eu gravasse um cd daquele pra ela. A saudade dói! Dói e não é pouco. Já são dois anos! Nem parece. Você faz falta viu? Sempre lembro de você. SEMPRE. Depois que você se foi aconteceram algumas coisas na família que eu acho que você não ficaria tão satisfeito assim. Quem deveria zelar por tua imagem a tem manchado. Mas Deus tá no controle e não nos abandonará. Lembro que quando pedia sua benção me respondia “Deus lhe dê juízo e muito dinheiro pra sustentar no futuro” . Estou estudando tio. Não deu tempo de te sustentar, mas eu vou cuidar da vó e do vô. Minha mãe já arranjou alguém pra ela. Ela tá feliz! Vou cuidar de bebê prometo! Fiquei sabendo que um dia você disse que parecia que eu não tinha coração, na verdade tio, eu tenho, só aprendi a esconder sentimentos pra não me machucar. Sempre tive medo da dor. Confesso que tenho me sentido desprotegida. Falta você! Tua partida me fez refletir e perceber o quão efêmera é a vida. Passa tão rápido. Tenho trabalhado ainda passar por cima do meu orgulho (você sabe que não é pequeno – uma de nossas semelhanças por sinal) para viver cada dia como se fosse o último e mostrar pras pessoas o quanto gosto delas. O problema é que eu sempre me machuco... Quer saber? Ainda não acho que você se foi, parece que a qualquer momento você vai chegar e me abraçar como fez aquele dia. Chegou assim sem avisar, mas eu tenho que acreditar tio. Assim já veio sem avisar, sem que ninguém esperasse você se foi. Aprendi o que é chorar de saudade. O vazio que não há como fechar. A dor que não vai estancar. Dói! Dói e não é pouco. Mas fica bem, eu vou seguindo aqui, aprendi a ser forte. Ainda tenho muito que aprender, mas tô no caminho... Sinto sua falta, sinto muito. Todos sentem! Até um dia meu tio... Saudades!

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